Olho para o meu relógio na cabeceira ao lado da minha cama pela milésima vez, 02:45 da madrugada. Odeio fazer isso, mas não tenho outra alternativa, me levanto e ligo a luz, passo os olhos pelo quarto até finalmente abrir a porta e ir em direção a geladeira.
Escolho o meu pote branco favorito com o melhor sabor de sorvete que existe, uma combinação perfeita de sabores, texturas e cores, todos os meus três sabores prediletos dentro de um só pote, chocolate, morango e coco. Pego uma colher dentro do armário e ando direto para o sofá. Pego o controle e tento escolher algum filme interessante, mas minha busca por um belo filme não é bem sucedida, então decido o canal 43, que está passando o filme, que se eu não me engano é: "A verdadeira Cinderela".
A ultima coisa que eu queria era assistir um filme de romance, não me entenda mal, eu amo romance. Sou ex-tre-ma-men-te ro-man-ti-ca. Mas é que hoje, exatamente hoje, eu não estou me sentindo bem. Eu queria mesmo não pensar nisso, mas é difícil quando tudo ao seu redor lhe obriga a pensar nisso. As fotos das nossas viagens estão estampadas no meu mural, na minha cozinha tem uma xícara que ele usava para tomar café todos as manhãs, na minha sala tem uma almofada que ele me deu de presente com a frase escrita: "Sempre amarei você."
Sempre... Não sei mais se eu acredito nessa palavra. E acredite, é estranho pra mim dizer isso, já que eu cresci com as histórias que meus pais me contavam sobre a fidelidade dos meus antepassados. Os meus bisavós paternos foram felizes até os últimos dias de vida deles, o meu bisavó materno não quis se casar depois que a sua mulher morreu. Os meus avós maternos e paternos também estão juntos até hoje. E nas reuniões da família se encontram para provar seu amor para todos que pedirem isso. O que falar dos meus pais? Eu não me lembro de ter visto uma única vez os meus pais discutirem na minha frente. Todas as manhãs meu pai abraça minha mãe e diz palavras de amor e de carinho no seu ouvido. Depois de tomar o café agradece por tudo que sua esposa faz por ele. E quando ele chega do trabalho ela é a primeira pessoa que ele ver antes de tomar banho e jantar.
Acho que é por isso que eu sou assim...
Aprendi com os meus pais que o amor não deve ser jogado fora só por que ele quebrou no meio do caminho por causa de alguma pedra, ele deve ser consertado, refeito, reanalisado.
Aprendi que só amamos, pra valer mesmo, uma vez na vida. E meus pais me ensinaram que é nesse "amor pra valer" que devemos lutar com todas as nossas forças para que seja pra sempre.
Mamãe me disse que todas as pessoas tem defeitos e que a soberania de um casamento está em aprender a conviver diariamente com esses defeitos. É suportar e principalmente PERDOAR.
Mas por que é tão difícil perdoar?
E quanto á confiança?
O que fazer quanto ao sentimento que está quebrado?
Não suportei tantas duvidas e liguei para a única pessoa capaz de me ajudar nesse momento.
Depois de alguns toques ouço a voz rouca no outro lado da linha:
- Alô?
- Mãe?
- Oi filha, aconteceu alguma coisa?
Não respondo de imediato por que ouço meu pai perguntar se está tudo bem, então ela pede para que ele faça silêncio.
- Sim... Quer dizer... eu acho que sim. - respondo finalmente.
- O que aconteceu? - ela quer saber.
- Estou preocupada. Eu e Bruno...
- O que tem?
- Nós brigamos, de novo mamãe...
Silêncio, sei que ela está pensando no que dizer.
- Querida eu nem preciso saber o que aconteceu para entender o real motivo da briga.
- Mãe, eu não consigo mais confiar nele.
- Você o ama? - ela pergunta.
- Amo, eu o amo tanto que sinto meu coração doer. Mas...
- Não tem "mas" minha filha, quando a gente ama, a gente perdoa, a gente confia. Se você acha que nunca poderá confiar no Bruno então termine de uma vez por todas com ele. Mas saiba que todas as pessoas estão propicias a errar. Que todos nós estamos sujeitos aos mesmos pecados. Que o próximo namorado poderá errar também. A vida é assim, nem eu nem você podemos mudá-la. Ou você aceita o Bruno sem jogar na cara dele, todas as vezes que brigarem, sobre a traição dele, ou então você o esquece.
Não pude evitar as lágrimas que caiam enquanto eu conversava com mamãe e papai... Porém depois de ter lavado a minha alma eu aprendi que:
Não.. não é fácil perdoar, e pior, não se pode esquecer um erro, uma traição. Mas quando a gente ama aquela pessoa, a gente ama e pronto. Se a pessoa que errou, lhe pediu perdão, e se mostrou totalmente arrependido e lhe prometeu que não erraria novamente, e o mais importante se você ama essa pessoa, não segure o perdão, por que amanhã poderá ser você do outro lado.

E nesse momento, a única coisa que me restava fazer era ligar para o número que eu sabia de "có"
- Oi?
- Não fala nada, me deixa falar primeiro.
(...)
Ps: Ame sem receio. Ame sem medo. Apenas ame.
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