Tem dois minutos?

São 00:22 (essa é a hora que começo a escrever) e meu filho ainda não dormiu. Já fiz tantas coisas hoje que nem consigo mais manter os dois olhos abertos com facilidade. O dia para nós começou cedo e, mesmo assim, isso não foi motivo suficiente para lhe fazer dormir até agora. E enquanto ele descansa (por que ele tá muito cansado, fez muitas coisas hoje, correu, pulou, andou de bicicleta, me ajudou a bagunçar a casa, me ajudou a fazer comida, na verdade ele derrubou toda cebola que cortei para o feijão no chão, me acompanhou no banho e me ajudou a varrer a casa, hehe), ah sem falar que ele sempre se cansa ao trazer todos os seus brinquedos para a sala (por que depois ele tem que levar tudo de volta, isso se estende por todo o dia). Agora, que sentei um pouquinho, enquanto ele assiste pela trigésima vez "Up! Altas Aventuras".
Eu comecei a pensar em como admiro minha mãe, sério, como ela conseguiu criar três filhas, com poucas diferenças de idade, como conseguia dar banho em três, vestir três, dar comida para três, ouvir histórias e fazer deveres de casa das três. E ainda tinha meu pai. Roupa, comida, casa, escola, igreja, como ela conseguia fazer tudo isso, todos os dias, durante todos os anos até crescermos e nos casarmos?

Ao escrever isso vem muitas lembranças em minha memoria e uma delas foi na época do natal. Todos os anos, quando chegava o final do ano, ela nos levava (as três) para o shopping para comprarmos nossa roupa de natal e nossa roupa de virada do ano (tinha anos que ela só tinha condição de nos dar a da virada do ano), esse era o nosso dia preferido. Ela nos levava bem cedinho, nos deixava escolher nossas roupas (de acordo com o valor que ela estipulava) e depois almoçávamos todas juntas. Não me lembro de uma vez se quer ouvir ela dizer que não levaria as três por que daria muito trabalho, nem reclamar que estava cansada, Lembro que ela amava conversar com a gente enquanto caminhávamos pelos corredores do shopping, conversávamos sobre tudo. Mas só hoje me lembrei que, por muitas vezes, ela não ganhou presentes de natal, não me recordo de ver ela usando roupas novas nessas datas comemorativas, nem sapatos novos. Mas também não me recordo de ver ela reclamar disso, ou de choramingar pelos cantos por não ter roupas, sapatos, ou até mesmo tempo para ela.
Lembro que ela limpava a escola que eu estudava, quando criança. Todos os dias, depois da aula, tinha que esperar minha mãe limpar a sujeira que eu e meus colegas faziam, eu nunca me envergonhei disso. Além da escola ela limpava também a igreja que congregávamos. E ainda tinham as faxinas que ela fazia e as trouxas de roupas que ela lavava e passava em casa. Sempre que pôde ela me levava com ela, acompanhei tudo isso de perto, ninguém me contou. Nós nunca passamos fome, não tanto por causa do meu pai, mas tanto por ela. Minha mãe é uma guerreira, conseguiu criar três filhas e hoje ajuda a criar os 7 netos. E nesse momento, aqui me achando cansada penso em quantas mães que estão deprimidas, cansadas, sem ter condições de dar uma vida melhor para seus filhos nessa nossa geração. Mas tem algo que quero dizer a você mamães, e a mim também: vai vale a pena, não desista! Lute até o fim. Crie um novo começo. Use suas mãos para trabalhar, sua criatividade, não perca a fé. Nunca é tarde para recomeçar. Todo seu esforço será recompensado.
E quero dizer para você que é filho(a) valorize sua mãe, todo esforço que ela passou, valorize todas as vezes que teve que negar a si mesma por você, que deixou de comprar roupas pra ela para dar a você, todas as vezes que dormiu tarde da noite e as vezes que não dormiu com você doente, ou te esperando chegar em casa. Valorize as vezes que mesmo não sabendo resolver seu dever de matemática ela não lhe deixou ir sem ele pronto pra aula. Não deixe sua mãe sozinha, não a deixe ir sem que ela saiba o quanto você é grato por tudo que ela fez por você. Cuide dela assim como ela cuidou de você.
Acho que renovei minhas forças e estou quase pronta para o dia que irá se iniciar amanhã (hoje). Ah, meu bebê acabou de dormir :)