Nessa semana estive pensando em muitas coisas relacionado a vida, a viver a vida. E foi assistindo uma reportagem sobre câncer que parei para analisar sobre como eu tenho vivido a minha.
Na matéria, que foi exibida no SBT, contou a história de uma mulher que tinha câncer. Quando ligamos a TV, a primeira palavra que escutei foi: câncer. Logo quis mudar de canal, por que esse é um tema que ainda mexe muito com minha estrutura. Mas decidimos continuar com a matéria. Essa mulher, que infelizmente não me lembro o seu nome, tinha dois filhos, um marido e uma vida toda pela frente, mas foi diagnosticada com esse tumor (que se eu não me engano foi no seu estômago), ela lutou enquanto pôde para continuar viva, mas a escolha, infelizmente, não era dela. E sabe o que mais me chamou a atenção nessa matéria? Foi uma das frases que ela disse com uma voz fraca e entrecortada pelo cansaço, antes o entrevistador a perguntou: - do que você se arrepende, em toda sua vida? então ela respondeu: de não ter dado tempo a ela própria para viver. "O trabalho me consumia todo o meu tempo, não conseguia conciliar minha agenda com a dos meus filhos, nem a do meu marido. Trabalhava demais com a intenção de proporciona-los uma vida boa, sem restrições, não sabendo eu que estava restringindo a mim mesma da companhia tão agradável deles." (paráfrase minha).
E ela faleceu. Logo após a ultima matéria.
Isso me faz lembrar um pouco do que eu e minha família passamos há oito anos. Meu pai sempre gostou de fumar (minha mãe me disse que desde pequeno), porém fumar não era sua única atração, ele era alcoólico. Sim, de verdade. Com 43 anos, isso mesmo, apenas 43 anos de idade virei órfã de pai. Tudo aconteceu muito rápido. Em um dia qualquer ele descobriu que tinha um pequeno caroço na região do pescoço, na garganta (mais precisamente) e achou que não seria grave... mas com os dias que passavam, o caroço aumentava. Então com muita luta ele foi ao médico com minha mãe. Depois de alguns exames veio a pior noticia das nossas vidas, meu pai tinha câncer de laringe. (Oriundo aos anos de uso do cigarro). Quando ele nos deu essa noticia fingiu estar forte e convicto de que venceria isso. Meu pai sempre foi "tirado" a forte, e eu realmente acreditava nisso, acreditava que um dia ele acordaria curado, que contaríamos juntos esse testemunho. Mas não foi assim que aconteceu... quando meu pai iniciou a quimioterapia (remédio que ele tomava todas as semanas) eu via meu pai "definhando". Os seus ossos começaram a aparecer, os seus cabelos que poucos eram grisalhos, lindos e lisos foram caindo e meu pai foi ficando careca... um mês e pouco depois ele já não conseguia comer, sendo assim, foi implantada a sonda (lembrar disso me dói muito, por que eu dei aquela comida sem cor, sem sabor, apenas uma papa, através de um canudo que levaria aqueles alimentos até seu estomago). Com mais alguns dias ele foi perdendo sua voz, aquela voz que gritava comigo me dizendo que eu deveria dormir "sem exceção", foi se perdendo e por fim virou um sussurro, tão baixo que parecia mais uma mimica.. o fedor que vinha do seu pescoço era profundo e, as vezes, insuportável. Poucos desejavam estar ao seu lado... poucos não, pouquíssimos. Lembro de certa vez, quando ele foi na igreja, sentou em uma cadeira, bem lá atras, ao lado de uma irmã, e assim que ele sentou, essa irmã levantou por que não suportou aquele odor e ele ficou sozinho. Ele sentia frio constante... mas não acho que esse era o principal motivo de usar camisas longas, acredito que sua intenção era mesmo de esconder seus ossos que estavam tão visíveis. Essa doença maldita foi levando meu pai aos poucos, definhando cada parte sua, até sua memória ficou afetada. Ele ficou tão fraco que passou a ser carregado de um lado para o outro. Ao escrever cada letra dessa sua dor as lembranças me atacam ferozmente, certo dia minha mãe me deixou sozinha com ele, não me lembro no momento o que ela teria que fazer na rua, mas me lembro com clareza do que eu estava fazendo: colocando as roupas dele para lavar no tanquinho, de repente, em um dos bolsos, encontrei um cigarro, e no exato momento a frase do que o médico tinha falado a minha mãe veio a tona, ele disse que do jeito que meu pai estava não iria melhorar, que um cigarro a mais ou a menos não faria diferença alguma. Assim que peguei o cigarro em minhas mãos vi meu pai tentando (sem sucesso) se levantar da cama, consegui ver por que o tanquinho ficava na frente da janela do quarto, e foi então que eu o vi fazer um gesto com a sua mão, a principio não entendi, mas quando ele pôs os dois dedos maiores na frente dos lábios entendi que ele dizia que queria o cigarro que eu tinha achado... ele estava nervoso e muito agoniado. Mas eu também estava, nunca tinha ascendido um cigarro em toda minha vida, na verdade, ele nunca tinha me deixado ir no mercado comprar cigarros pra ele, e então eu o via implorando por aquele miserável cigarro, o causador da sua morte. Eu tinha que dar para ele não ficar mais nervoso... você pode me julgar agora, mas eu entrei na casa, fui ate a cozinha e peguei o fosforo. Pus o cigarro em sua boca e com lágrimas nos olhos ascendi. Mas o que me trás dor ao lembrar não foi ver meu pai fumando nos seus últimos dias de vida, mas sim saber que ele estava tão fraco que não conseguia segurar o seu próprio veneno. O cigarro caiu de sua mão. Ele tentou se levantar e eu pedi para que sentasse, mas ele resmungava, ele sofria por tudo isso, e deu um passo, mas ele tombou, caiu. Vi meu pai no chão, meu herói não conseguiu se segurar em pé, o homem que me criou, que me ensinou valores e me deu princípios, um homem que me amou desde meu primeiro dia de vida, que nunca levantou a mão pra mim (a pesar de nunca ter sido um pai super amoroso) ele sempre me repreendia e me prometia uma surra, mas não chegou a dar.. Segurei meu pai em meu braços e chorando o arrastei até a cama e disse: pai, por favor, não consigo lhe segurar. Não faça mais isso.
No dia 14 desse mês meu pai faria 51 anos, faria...
Sabe, não escrevi tudo isso para te contar da minha vida, nem para criar emoção em você, mas sim para te dizer: a vida é preciosa DEMAIS para se preocupar com bobagens do dia-a-dia. A vida é curta demais para amar pouco. A vida é só uma, você NÃO terá chances de vive-la novamente. Por isso, ame quem te ama, mas principalmente, ame quem não ama você. Faça o bem sempre! Mesmo que você não seja recompensado por isso, naquele momento, mas faça o bem sem olhar a quem! Viva e se cuide. Se ame! Se ame muito, seja apaixonado por si próprio. Acorde sorrindo e agradecendo por ter vida, por poder enxergar a beleza do amanhecer, das flores, se você não pode enxergar então agradeça por que você pode sentir o perfume das rosas, pode toca-las... pode ouvir o som lindo dos pássaros, e não esqueça, nenhum segundo, que nós não podemos saber do amanhã, por que ele só pertence a Deus, hoje você está saudável... por isso viva cada segundo como se fosse o ultimo e agradeça a Deus pela sua família, isso mesmo, por seu pai ser tão rígido, por sua mãe ser "chata", por sua irmã ser mandona e seu irmão grosso. Pois posso lhe dizer com toda certeza, antes um pai rígido, grosso que reclama por tudo e que quer tudo certinho, porém vivo, do que um pai morto. Sim, eu sinto MUITA falta do meu pai! Sinto falta dos momentos que vivemos, mas sinto mais falta dos momentos que nunca vivemos e nunca poderemos viver. Mas diante de tudo isso eu sou feliz em saber que um dia nos encontraremos na glória. E por isso que amo minha mãe, demais. Que cuido dela e a respeito. Que zelo por seu amor, por que por muitos anos ela tem sido mãe e pai ao mesmo tempo. É por isso que amo e cuido da minha família, do meu esposo, do meu filho, por que foi meu Deus quem me deu para suprir toda falta que eu tinha a respeito de um lar abençoado. E é por isso que eu te digo, te escrevo tudo isso, para que você possa AMAR, CUIDAR E ZELAR por seu bem mais precioso, sua família. Por que como diz um texto, pequeno, porém muito sincero: saudade não será motivo suficiente para ter a pessoa de volta.
É isso...
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